domingo, 27 de junho de 2010

Margem


Queria ver-me sentada à margem de um rio. Contemplativa das águas e dos seus mistérios cristalinos, verdes, incolores, aspirante dos seus segredos fugidios, sobre o rio reclinada e pensante. Pacificar-me (d)entre as flores sem idade e inspirar com delícia os ares perfeitos do campo. Saber do bosque ali perto e do espaço fresco, líquido, rente à pupila.

Ansiava e com viva pena anseio sentir-me livremente encapsulada no Paraíso terreno possível e tão vasto das coisas amadas e das coisas que amam mesmo sem o saberem por serem, afinal, coisas: caso da árvore, da pétala perfumada da rosa e do rio. Caso, em particular, dos nossos queridos próximos. Dos nossos. Como seria maravilhosamente bom podermos, nós e esses, viver perto dessa visionada margem.

Este sítio onde estou, cheio de alcatrão, carros e ferro e outros, é longe de onde almejo. Íntimo, irmão do meu almejar é, entretanto, apartado do que tanto queria. Essa distância é enorme; ácida e fatídica para o meu sonho.

* Fotografia de Meditabunda



Meditabunda

2 comentários: