sábado, 15 de maio de 2010

Por que é que fazemos blogs?


Andava eu a cogitar de um lado para o outro da mansarda desta minha extenuada mente quando me ocorreu pesquisar quantos blogs existem. Não cheguei a uma conclusão, diria, actualíssima. Porém, rezam os entendidos nestas matérias que, em 2007, ascendiam ao robusto número de 112 milhões, e parece que 175 mil novos vêm a luz dos screens diariamente. Milhões de blogs, milhões de bloggers, milhões de posts, de planos, de sonhos, de fotos, de factos, de links e de imaginários à solt@. Por quê?

Claro que as pessoas podem invocar o seu grande gosto pela escrita, a oportunidade de expor ideias, poemas de verdadeiros poetas e poetastros, recordações, teorias, receitas de culinária, revoluções, bricolage. Concordo que exista inevitavelmente um amor ou um affaire com a pena, leia-se, com as teclas, e uma vontade de mostrar alguma coisa a que se vota tempo e dedicação. Ou, até, a criancice que raia a ternura de verem em letra de imprensa, a pontuar o écran, qual televisão, os seus escritos, uma parte de si. Quem sabe, um secreto desejo de que os textos se possam transmutar, um dia mais tarde, em papel, em romances publicados, em artigos disputados pelas revistas da vez. Noutros espíritos, e reconditamente, um soslaio ao “estrelato”, uma perspectiva de reconhecimento público, um convite para apresentar a 547ª edição da Operação Triunfo.

Pode ser isso tudo. Mas eu, Meditabunda, tenho para mim que, a perpassar todos estes movimentos de esperanças e ansiedades, labores e antevisões, vive uma íntima vontade e uma genuína necessidade de nos tocarmos uns aos outros como quem pensa em conjunto, de pensarmos como quem se toca. Alguma coisa do cidadão comum para o cidadão comum, sinais de fogo entre semelhantes. Porque alguns motoristas de autocarros podem ser rudes, alguns médicos insuportáveis, pode haver cabeleireiras azeiteiras, ou senhoras que com as suas fisionomias antipáticas e altivas e confusas encham as ruas, peões alucinados, ciclistas alucinantes pelos passeios a incomodar transeuntes sorumbáticos. Existem certamente colegas de trabalho que odiar não odiamos porque somos grandes de artéria aorta, mas os quais desprezamos profunda e até estrepitosamente, e chefes que acordam o mais intrépido dos bombistas suicidas dentro de nós, camuflado sob um manto de discrição e aparente saúde (ahahahahah, riso histérico!), e públicos que nos maceram tão meticulosamente que ousaríamos pensar-nos incapazes de refazer os nossos múltiplos pedaços triturados para ressuscitarmos o esqueleto vivo que há em nós. Porque é certo que as ingratidões de amigos e as mágoas de amores, bem como a fome na Etiópia e as guerras afegãs nos fazem zangar e desejar ardentemente evitar a Humanidade, até porque a finitude nos entristece deveras, de perto e à distância. Pode ser tudo isso.

Mas em todo este grotesco desconforto dos dias, e são muitos os desconfortos e muitos os dias, carregamos comovedoramente, nos nossos corações ainda mordidos por alguma avidez muito jovem e muito futurista, um desejo de falarmos uns com os outros, a velha fantasia de ficarmos à conversa, ainda que fugaz, com o anónimo em cuja inesperada companhia fazemos uma viagem de comboio ou de calçada, a perpétua impressão de, como diziam os antigos, termos sido todos um numa inlocalizável anterioridade. O mitigar de solidões, o chegar a nós através dos outros, o sermos com outros em nós. Somos milhões e milhões de solidões acompanhadas neste grande mar. Os blogs são milhões de barquinhos e jangadas, as novas caravelas cujo destino não são já geografias, mas o mistério sem tempo da curiosidade e estranheza e apego e saudade que temos uns dos outros, mesmo desses outros a quem ainda não vimos, a quem sequer conhecemos, a quem nunca viremos a encontrar.

E há uma efectiva beleza nisso.

Meditabunda

6 comentários:

  1. Ó Meditabunda, estavas inspirada quando escreveste isto, hein??!!

    Agora essa histórias de nos tocarmos uns aos outros e do estarmos juntos e das solidões e mais não sei o quê, isso sabes bem que é demais para os meus figados.

    Mas porque é que esta coisa dos blogs não pode ser apenas uma brincadeira e tem logo que tomar forma de consciência e de partilha e de estranha forma de vida?

    Há que simplificar, há que relativizar, tudo isto é loucura, tudo isto existe, tudo isto é blog.

    Avalanche

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  2. Ó Avalanche, também detecto aí uma fadista subliminar dentro de ti, tenebrosa e cantadeira!

    Vá que concordo com a loucura, mas como de poetas e de loucas todas temos uma pouca, todas e todos queremos estar conectados na gigante insanidade. Ora não é? Salve, touché, tchin tchin!

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  3. Bom, essa da insanidade já me seduziu.

    Viva a porra-louquice blogueira! Viva tudo o que não faça sentido nenhum!

    Avalanche

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  4. Ientião muites parebens ais trez muninas deste log.. a cor é um poque disagadãvel para a minha vusta.. mas de reste parece que ~estião a diar-,lhe bem,, viou presrefuirvos.. rsrs Madaluqueira.

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  5. Cara Madaluqueira,

    Tomámos boa nota dos seus apontamentos...muito obrigada e persiga-nos eternamente!

    Meditabunda

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  6. Oh Madaluqueira, seja muito bem vinda. Olhe lá, esta cor tem qualquer coisa de azul do fcp, daí, daz bem a qualquer vista.

    Volte sempre, gostamos de a ter por cá. Adorei o sotaque. É acoreano?...rsrsrsrs

    Avalanche

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